Está confirmado. O Partido dos Trabalhadores tentará voltar à Prefeitura de Uberlândia após oito anos, a partir da pré-candidatura da deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG), anunciada em primeira mão em entrevista a O TEMPO. Durante a conversa, ela disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente nacional da legenda, a deputada federal Gleisi Hoffmann, a convenceram de disputar o pleito municipal, que pode ter outros dos parlamentares: Cristiano Caporezzo (PL) e Leonídio Bouças (PSDB).
Dandara disse que sua campanha será feita de maneira coletiva, “a muitas mãos”. Prometeu rejeitar a polarização com o bolsonarista Caporezzo para “apresentar soluções concretas para os problemas da cidade”. A deputada também garantiu que seu plano de governo tem como principais objetivos melhorar três áreas de Uberlândia: mobilidade urbana, saúde e acesso às creches.
A deputada federal é a única parlamentar do Triângulo Mineiro vinculada ao campo da esquerda. Uberlândia só teve um prefeito do PT em sua história, o fundador do partido na cidade e ex-parlamentar Gilmar Machado, que governou o município entre 2013 e 2016. Tentou a reeleição, mas teve apenas 10% dos votos válidos. A cidade hoje é governada por Odelmo Leão (Progressistas), que já cumpriu os dois mandatos permitidos pela legislação eleitoral.
Em breve conversa com a reportagem, a presidente da executiva nacional do PT, Gleisi Hoffmann, elogiou o nome de Dandara. “Dandara é uma revelação na política e é a pré-candidata do PT para disputar a prefeitura de Uberlândia. É uma mulher negra, combativa, de grande representatividade”, disse. “Uberlândia é uma cidade importante para o PT e pretendemos ter um representante da direção nacional do partido no dia do lançamento da pré-cadidatura de Dandara”, completou.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Dandara Tonantzin:
O TEMPO: Uberlândia tem hoje três pré-candidatos com mandato parlamentar: a senhora e os deputados estaduais Leonídio Bouças (PSDB) e Cristiano Caporezzo (PL). De alguma maneira, acha que a eleição fica mais difícil pela presença de outras lideranças que já tiveram sucesso eleitoral na cidade?
Eu acho que cada eleição é uma eleição. O PT e a esquerda, ao apresentar o nosso nome como pré-candidata nesse momento, é também no sentido de apresentar um projeto político para Uberlândia diferente do que tem hoje e das possibilidades que estão colocadas nessa eleição. Vou ser a única candidata mulher. A única candidata jovem. A única candidata negra desta eleição. Vai ser uma oportunidade da gente dialogar com o povo trabalhador de Uberlândia, que é realmente quem faz a cidade.
O TEMPO: O PT só governou Uberlândia por um mandato, com o ex-prefeito Gilmar Machado. Ele tentou a reeleição, mas teve apenas 10% dos votos. Dado que o presidente Lula perdeu na cidade, como reverter o quadro no pleito municipal? Vale lembrar que se trata de uma das regiões mais conservadoras do Estado…
Eu vou focar nesta campanha em apresentar soluções concretas para os problemas da cidade. Eu não quero ficar presa ao passado nem preocupada com o baixo nível da disputa eleitoral, com os ataques. Eu vou me preocupar em apresentar um projeto de desenvolvimento que aponte para o futuro da cidade. Esse vai ser o nosso objetivo.
O TEMPO: Como estão as articulações com outras lideranças da esquerda? O lançamento da sua campanha vai contar com a presença de algum cacique do PT?
O que mais está me motivando neste momento é perceber que o nosso nome é resultado de um acúmulo coletivo, uma reflexão do partido, de lideranças, coletivos, movimentos, entidades… Ele realmente está vindo pelo apoio de várias pessoas. Nós estamos no momento inicial, de elaboração do plano de governo. Nós vamos fazer isso a muitas mãos, construindo com a periferia, a cidade, rodando os quatro cantos da cidade. Nós estamos no momento de fortalecer os partidos que estão com a gente, na chapa de vereadoras e vereadores, trazendo também lideranças.
O TEMPO: Em BH, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) tem tido dificuldades para ter o apoio do presidente Lula na campanha. Quando veio à capital recentemente, Lula sequer citou Rogério em seu discurso no palanque e ainda colocou o atual prefeito Fuad Noman (PSD) na mesa de autoridades, um claro sinal para uma possível composição. A senhora tem garantias do partido de que será candidata? Há diálogos com o presidente Lula?
Eu estou saindo candidata porque a presidenta Gleisi (Hoffmann, deputada federal pelo PT do Paraná) e o presidente Lula (PT) me convenceram disso, da importância que é a gente ter candidatura, disputar a cidade, apresentar um projeto político diferente para Uberlândia e ganhar a eleição. Eu tenho as garantias do PT de um apoio forte. Eu tenho o compromisso do partido de estar junto nesse processo.
O TEMPO: Publicamente, os candidatos do PL já afirmaram que tentarão a polarização, exemplo disso é o deputado federal Cabo Junio Amaral em Contagem, onde Marília Campos (PT) é prefeita. Como a senhora analisa essa provável postura por parte do deputado Caporezzo, um dos quadros mais conservadores do Estado? A polarização será aceita ou afastada por sua campanha?
O PL tem trabalhado em muitas cidades para desqualificar o processo eleitoral; despolitizar a política; e reduzir grandes discussões a um jogo muito baixo. Eu vou focar em apresentar soluções para os problemas. Não vou cair no jogo, nas armadilhas e artimanhas que eles tentam o tempo todo colocar sobre nós. Eu sei o que é ser uma deputada mulher na política. A violência política de gênero é algo bem difícil. Recentemente, o deputado Caporezzo postou nas suas redes sociais um vídeo contendo vários elementos de uma violência explícita contra mim. Eu vou deixar com nosso jurídico, para que os nossos advogados façam o trabalho deles e possam nos representar nas instâncias superiores.
O TEMPO: Vamos falar de propostas. Quais são os maiores problemas de Uberlândia hoje? Como a senhora pretende resolvê-los?
O nosso plano de governo vai ser elaborado a muitas mãos. Nós vamos construir uma caravana, que vai rodar os quatro cantos da cidade ouvindo as pessoas e elaborando soluções para os problemas. A gente já tem conversado, até aqui, que é muito ruim a gente ver que a mobilidade urbana, o ir e vir, ainda é um problema para os trabalhadores e moradores da periferia. Nós precisamos de um busão bom e barato, de um transporte público de qualidade. Da mesma forma, facilitar o acesso transparente ao SUS. Nós precisamos agilizar as filas de cirurgias, de consultas, que não têm nenhum tipo de transparência hoje. Tem gente que fica anos esperando uma simples consulta, um simples exame. Nós vamos criar métodos para resolver isso. Nós também precisamos de uma viva, potente, que pulse e que os artistas sejam valorizados e reconhecidos. Em que as atividades culturais aconteçam, favorecendo o bem-viver, o lazer, o acesso à uma vida digna, de qualidade. Nós também estamos atentas aos problemas que estão chegando agora com relação às vagas nas creches. Muitas mães têm nos procurado para pedir ajuda e buscar soluções. Falta muita vaga de creche em Uberlândia. A gente sabe que quando falta vaga em creche, isso prejudica muito a vida das mulheres, em especial as mulheres trabalhadoras.
Entrevista originalmente publicada no Jornal O Tempo: https://www.otempo.com.br/politica/dandara-confirma-candidatura-em-uberlandia-gleisi-e-lula-me-convenceram-1.3336247